terça-feira, 19 de julho de 2016

A Flor da Resistência


Flores! Flores negras
Formando uma guirlanda fúnebre!
O grito secular ressurge
Em Baton Rouge!


Uma delas fora arrancada
E suas pétalas nem tocaram o chão,
Porque lá, no frio, sempre estão
As incontáveis!


E logo a guirlanda dispersa!
"A mão! Lá vem a mão!
Fazer da nossa voz submersa,
Deitar nosso grito ao chão!"


Mas, uma flor permanece!
Em meio à gritos, correria e caos,
O seu silêncio é a prece:
Quem expressa o seu desabafo,
Quem à luta eleva e enobrece
É a sua inércia!


A forma mais bela de protesto
É a que, diante de qualquer ameaça,
Continua sendo o que é!


E ela seguiu sendo flor,
Mantendo imóvel à denúncia:
"A maldita árvore fora cortada
Mas as raízes, continuam lá!"!


"Por cima, por baixo e até dentro de nós,
Elas crescem, se movimentam e dão frutos
De um passado tão presente e atroz,
De um rio que vem beijando o asfalto,
De sangue sedento por foz
À desaguar..., em nós!"!


A mão se apressou em levar
A flor solitária!
Afinal, o que seria dela
Se as outras flores percebessem
Que seria impossível mover
A inércia de todas juntas?


"Não às utopias libertárias!
Tremam as linhas imaginárias!
Que o Solstício venha mais cedo
E só lhes reste o frio e o medo!"


A flor é um cateto poente
Cuja extremidade abraça o Oriente,
No encontro da diferença igual,
Na Praça da Paz Celestial!


A flor é mãe!
E ser mãe é um mutirão de sentimentos
Trabalhando para que o sentimento de um
Seja a verdade
Da liberdade!


(João Paulo Moço)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Notas Viandeiras


A música é o cartão de embarque
Para as caravelas do tempo!
Ela sopra a saudade, o vento
Do passado que nunca tive
Para o futuro que hoje vive
Aqui dentro!


Todos nós somos pequenos ralos
Por onde a vida escoa lentamente!
Todos nós estamos fadados
Aos adeus, este senhor docente,
À escassez do fluido sagrado,
Ao temor da última gota!


Lágrimas tão iguais, que insistem
Na fragmentação, infindos tomos!
Belos volumes de puro esquecimento,
Queimados por outros da própria obra!


Páginas de pura insanidade,
Que ontem clamavam por liberdade,
Dão lugar às racionais, burguesas, puras,
À ocupar praças, campos e ruas
À implorar o general, a ditadura!


Ah! É no beijar da boca podre,
Fétida e rejeitada por todos
Que alcanço o meu nirvana
E integro a caravana
Da contramão!


(João Paulo Moço)

Ressurreição


Era mais um dia à suicidar-se na mesmice,
Até que o mar decidiu vestir vermelho!
Foi na hipnose das tuas ondas
Que o Sol nasceu em plena noite
E as bocas cessaram as sandices
Para que apenas os olhos falassem!


Quem entendia aquela língua erótica?
E de que adianta desnudar as palavras
Quando, tudo que importa é o que está por trás
Dos seus "mas" e "mais"?
Todos sabiam!


Eram apenas engrenagens desgastadas,
Eram peças, rotações tão cansadas,
Sonhando  um segundo em ser usadas
Apenas para si! Só para si!
Para produzir seu próprio gozo
Ao menos uma vez!


Amarraram os pés com barbantes
E abriram lojas à vender vôos!
Puseram mordaças nas bocas
E inauguraram butiques à vender sorrisos!
Quanto mais se tem, mais altos são!
Quanto mais ricos, mais belos são!
Mas, serão eles verdadeiros?


Às vezes, nos partimos no próprio sonho!
Mas, o sorriso? Este é inquebrantável!


Às vezes o cristão espanca,
Cospe, xinga e pisa em você!
E são as cinzas da bruxa que te acolhem
E te ensinam a voar
De verdade!


Vão-se as saideiras
E o adeus não chega!
A realidade
Da sobriedade
Sempre convida ao evitar!


E quem entendia aquela língua triste?
Sentimentos e histórias pululam na alma:
Todos sabiam!
Era um ponto de encontro das solidões,
De todos os tipos, cores e emoções,
Onde a inexistência dribla o mundo
E existe!


E ali, num canto, a mesa secular!
Sim! Ela está em todo lugar!
E nela, está o maldito mestre
Que, da minha mente, é o pedestre!
Sorri para mim, erguendo a taça,
Relíquia que o tempo não enlaça,
Escárnio do pavor subterrâneo
Feito de seu próprio crânio!


(João Paulo Moço)