quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A Graça da Morte: Diálogo com Junqueira Freire


A dor em meu peito sentida
Ecoa na mais triste ode;
Espírito exausto já não pode
Sustentar o peso dessa vida!

O ardor de outrora não mais provei!
Espetáculos que a Mãe Natureza faz;
Por Deus! Não me lembram mais
As formas da bela que amei!

Um soar cada vez mais distante,
Exala meu coração de ser errante,
Desejoso da sonhada liberdade!

Então a Morte impõe sua graça:
Meu corpo podre a terra abraça,
Num beijo por toda a eternidade!

(João Paulo Moço)

domingo, 19 de janeiro de 2014

A Visão


A mais brilhante estrela dos céus
Desceu à Terra em cachoeiras de amor;
Quem nelas se banham curam a dor
E não mais retornam ao banco dos réus!

As lentes do pessimismo se quebram
No poder celeste dessas águas;
Resistem os lamentos e as mágoas
Em vão: nelas, todos se encerram!

Os rios imponentes que se formam ali
Viajam o mundo inteiro em apogeu,
Abençoando também a terra onde nasci!

Princesa, tudo isto me floresceu:
Foi este lindo espetáculo que vi
Na simplicidade de um sorriso seu!

(João Paulo Moço)

sábado, 18 de janeiro de 2014

Nossa Gente


Nossa gente sobrevive à esmo,
Na esperança de sonhos distantes;
Clamando aos opulentos governantes
Que representam apenas a si mesmos!

Nossa gente sobrevive ao choro
Pelo sofrimento da terra que ama;
E se afunda em podridão e lama
Mas pagam por ruas de ouro!

Nossa gente, honrada e nobre,
Tem uma recompensa pobre:
Toda sorte de enfermidades!

Nossa gente deseja a mudança
Que a Constituição deixou por herança:
O direito à dignidade!

(João Paulo Moço)

O Meu Lugar


Quando a vejo sorrir e passar,
Guiada nos braços de seu amado;
Sinto o meu peito transpassado
E todo o meu sangue se exaurir!

Mas, se os ventos carregam teu suspirar
E encontram lágrimas nos traços;
Procurando o riso em outros braços,
É porque ele ocupa o meu lugar!

Meu sonho é vencer as ilusões,
Fundir nossos singelos corações:
Tu és o meu desejo mais profundo!

Se tomasses neste peito o seu bem,
Nunca mais desejarias outro alguém,
Terias, ao seu lado, o mundo!

(João Paulo Moço)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O Declínio do Sol


O Sol ausentou-se da grande mesa
Onde os astros reuniam-se s festejar;
Como Byron, vi a humanidade chorar,
Tentando manter uma chama acesa!

Fogueira engolfada na penumbra,
Devorava os recursos que atiravam;
E quando todos eles se findaram,
Profanamos nossas sagradas tumbas!

Queimamos todos os mortos dessa terra,
E os vivos se atiraram a luz, que berra:
"Faltam bem poucos, menos de cem!"!

Foi-se o penúltimo e fico a lamentar-me,
Termino o soneto e vou entregar-me,
Ser luz que não iluminará ninguém!

(João Paulo Moço)

O Pecado


A voz que outrora desejava meu bem,
Suave, ao pé do coração;
Desfere a derradeira agressão:
"Você nunca vai amar ninguém!"!

A tais palavras, um abraço sem fim,
Eu dei, em insanos carinhos;
E desbravei os diversos caminhos
Do infinito que há em mim!

De lá voltei e a lágrima sentiu,
Sabendo o que você não viu,
Pois nunca saiu do seu cais!

Mergulhado num mar de desgosto,
Percebi exatamente o oposto:
O meu pecado é amar demais!

(João Paulo Moço)

Nunca é Tarde


O tempo transformou seu sentir
E a Flor diz que o hoje é tarde;
Discordo num brado, causando alarde:
Um sentimento pode sim ressurgir!

Quando a Lua viu seu amado partir,
Chorou oceanos de tristeza e saudade;
Mas, descobriu consoladora verdade:
Que nunca se desaprende a sorrir!

Contemplo um novo brilho no olhar
Do louco poeta, que tornou a cantar,
Porque voltou a amar sem medida!

E, diante de ti, repleto de esperança,
Entrego esta minha humilde herança:
Nunca é tarde para nada nessa vida!

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Discurso da Alienação


É no som ensurdecedor da chicotada,
Mecanismo cruel de carrasca rotina,
E, do trabalhador, uma triste sina,
Que eu faço minha nobre morada!

Tenho por filhas a homogeneização
E a superficialidade, que fazem programas
Dominar mentes e torná-las insanas,
Viciando-as no podre da televisão!

Dei a largada à uma nova ditadura:
A busca frenética, verdadeira tortura!
Não meça loucuras, alcance a realeza:
A perfeição de um ideal de beleza!

Permaneça na linha! Não saia da faixa!
Sabe a recompensa de quem não se encaixa?
O destino de todo não-inserido:
Discriminado, solitário e esquecido!

(João Paulo Moço)



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Encontro Inesperado


Nem o falso alento da ilusão
Eu tinha a me enganar:
Apenas solidão no caminhar
De uma triste tarde de verão!

Foi quando o seu sorriso, em adoção,
Surgiu diante de mim a brilhar;
E fez a minha alma recordar
Alegria perdida em meu coração!

Não vejo mais um Sol cinzento!
E tudo por um único motivo:
Sua presença em minha praça!

Soprava de ti um nobre vento
Que me deu direção e sentido,
Fez sorrir meu dia sem graça!

(João Paulo Moço)