segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Contradição


Se a política é tão importante
Para a nação seguir avante,
Com passos belos e míticos,
À gerar frondosos ramos,
Por que então à designamos
Aos políticos?

(João Paulo Moço)

Eu preciso te dizer

 Eu preciso te dizer,
Eu preciso te encontrar,
Eu preciso te alegrar,
Eu preciso te amar.

Eu hoje sonho,
Eu sou, não morro,
Eu me recuso,
Eu não acordo.

Preciso do teu Sol,
Preciso banhar minhas pétalas,
Preciso do teu alimento,
Preciso viver.

Te dizer,
Te roubar o juízo,
Te adentrar,
Te fechar,
Te poupar do lá fora,
Te realizar aqui dentro!

(João Paulo Moço)

Solidão Dominical


O Sol fez nascer o funeral dos dias de minh'alma.
Era domingo e o defunto cheirava muito mal.
Ao longe, ouço canções e solidões que se acompanham.
Domingo é sempre assim: a TV aberta é um convite para qualquer outra coisa.
Ah! Solidão: tendência de um mundo moderno e conectado,
Porto saudoso de movimento, carente de navio,
Que senta à mesa com o silêncio e deixa a dúvida
De prisão ou liberdade.
Eu já tentei viajar
Mas, tudo o que consegui
Foi uma solidão mudando de lugar.
Mas, nunca sendo a mesma.
Jamais fui sozinho da mesma forma:
Solidão não se repete.
Eu mergulho na solidão mas, não à conheço.
Não me atrevo à buscar o fundo:
Eu tenho medo do ponto onde se faz impossível voltar.

(João Paulo Moço)

sábado, 27 de agosto de 2016

As ruínas ensinam


São tantos desistentes nas estradas,
São tantas as variedades de não,
Que, quando vi histórias fracassadas,
Ajoelhei em plena admiração.

Aprendi em uma noite ensolarada
Que a mais simples proibição
Faz da tal coisa desejada
O motivo de bater o coração.

O impossível treme, possesso,
Tal qual temem nobreza e clero
Quando, pela dúvida, me interesso,

Acertando o passo, o bolero
E provando que também o regresso
Pode me levar onde bem quero.

(João Paulo Moço)

Como cheguei


O tempo roubou minha infância,
Fez de mim adulto, deprimente;
Pensei com as minhas obrigações:
Por que não fazer diferente?
Sentindo o galope da sombra
Que, sobre nós, avança,
Decidi começar de novo
Só para morrer criança!

(João Paulo Moço)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"Ressintonia"


Acho graça nas intrigas que ouço.
O Cravo fala mal da Rosa
Sem perceber o seu próprio desnudar.

A Roda faz seu giro educado e cordial
Até que pára e o primeiro desce:
Quando volta a girar, tem alvo novo
Para a difamação.

São infelicidades que não concebem revoluções,
Porque deitam na cama com os fracassos
De tocaiar a felicidade alheia:
Um consolo medíocre.

Os boatos são como lápides:
Quem deles se cerca, convida a morte para dentro de si.
Definha tudo que te faz belo.
Fuja sem olhar para trás!

Semeio aos ventos uma proposta:
Que tal passearmos sobre as virtudes
Que toda pessoa tem?
São tantas e tão apaixonantes!
Que tal "ressintonizarmos" o olhar?

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Poema Simplesinho


Que seu labirinto ouça a dica
Deste simples coração:
Você complica,
E eu, ação!

(João Paulo Moço)

Poucas Palavras


Escorreu de mim a última gota de verdade.
As mentiras formam rios poderosos que desembocam em mares de oceanos profundos.
Mantenho-as dentro de mim e sufoco as palavras.

O pensamento e o discurso dançam em lados opostos da balança.
Uma balança em eterno desequilíbrio.
Beijo a boca do silêncio.

Descobri infindos ouvidos em cada célula de meu corpo.
E fui à semeá-los por aí, pelo mundo, sem segregações, desigualdades ou preconceitos.
E a minha voz? Bem, esta é única, sussurro digno de poucos,
Contados pelos dedos desta mão.
Ah! E como sobraram dedos incorrespondidos!

Sou como todos os outros: 
Não me deleito nos discursos que enumeram os erros
Que cometo afogado no desejo e no gozo.
Falhas dignas de penitência..., quando não as cometo!

As palavras tentam matar-me a todo instante, porque amo demais.
E à tudo que amo, nada sei dizer.

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Dipa Karmakar


Foi em meio à baratas e ratos,
Num ginásio totalmente improvisado,
Que ela fez dos diversos hiatos
Lugares de um sonhar inesperado!

Onde reinavam os assassinatos
Dos talentos (eram todos afogados
Pelo peso da carência nos ornatos),
Ela tomou um pouco emprestado

E transbordou o que não lhe cabe!
Fez toda dificuldade debandar,
A falta de investimento, a debilidade,

E sua luz não tardou à superar
Um governo que não vê prioridade
Nas pequenas como Dipa Karmakar!

(João Paulo Moço)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Sexta..., mulher!


O teu passar
Fez de mim criança!
É o doce que dança
Sobre meu paladar:
Água na boca,
Vontade louca!

Se olhasse para frente
E não para baixo,
Veria um presente
Onde eu me encaixo!
Esqueça o celular, minha bela
E veja em mim a melhor das telas!

Deixe o meu navio
Saber teus horizontes,
Saber do teu cio,
Devorar tuas pontes!

Tua língua insistente
A passear nos próprios lábios,
O sorriso, teus dentes
A agraciar os pátios:
Menina-mulher faceira
Personificando a sexta-feira!

(João Paulo Moço)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Férias


Enfim, já posso ser um otário
Sem a honra dos seus julgamentos;
Tranco a porta do confessionário
E revelo meus pecados aos centos!


Sou eu, do outro lado, solitário,
A ouvir-me às pedras, arrebentos;
Distante do maldito itinerário
Que mata no berço meus inventos!


Escondendo-me das reivindicações,
Da rádio que um dia foi Cidade,
Do grito por direitos em repressões!


Hoje, eu mergulho na saudade
Do menino, isento às alusões
Construídas para tolher a liberdade!


(João Paulo Moço)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Solidões Acompanhadas


Descobri beleza na fera
Quando fui mais à fundo:
Ser uma ilha não era
A pior coisa desse mundo!

Faltam mãos, pés e braços
Que consigam desatar o nó:
O estar cercado de passos
E ainda assim caminhar só!

Vislumbrei a salvação,
Das companhias, a rainha,
Quando a sua solidão
Resolveu beijar a minha!

(João Paulo Moço)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Verborragia



Um trovejar
Quase inconsciente,
Que nem sente
O alienar:


Precisa falar,
Ser a dor de dente
Da razão!
Precisa exalar
Um sim deprimente
Do meu não!


Simplesmente ser,
Mais do que eu,
Mais do que nós,
Ser o algoz
De um apogeu
À sós!


(João Paulo Moço)

Era



Eram os dossiês da alma,
Continentes de informação,
Nús, bem na palma
Da sua mão!


Era um manto pedrês!
Acertos e pecados
Num bailar siamês:
Namorados!


Era o planisfério do íntimo
Só para você se guiar
E devorar onde quisesse
Chegar!


Era uma mina de ouro
Sem emboabas:
Só suas bandeiras fincadas
No tesouro!


Era uma proporção promíscua,
Inversa e sem razão!
Era um hiato de ilusão,
As mãos dadas do internato!


Era o meu livro,
Indecente!
Era o meu jogo,
Cadente!
Lançado ao fogo,
Ao abraço..., poente!


(João Paulo Moço)