O poder da ignorância é tão assustador
Que chega à contradição de fascinar-me;
Sorrisos selvagens e brutos à rodear-me,
Dentes podres, se mostram até na dor
Do próximo que, em prantos, ajoelhado,
Saboreia o doce amargo da impotência;
De ver as luzes priscas da sapiência
Descerem pela descarga do alienado!
A atividade mental surge e parece
Uma fonte inesgotável de tristeza;
Todo ignorante é feliz na "beleza"
Da realidade que sofre e carece!
A que maldito ponto nós chegamos,
Num tempo onde a cegueira e surdez
Da mente dão voz, lugar e vez
A felicidade que tanto "desejamos"?
Felicidade insana, putrefata e ilusória
Que, em tempos de colapso, até causa inveja;
Mas, não é como a bela vitória-régia,
Dança travestida por toda sua história!
A "felicidade" que encontramos errantes
Tem um contrato de negação por baixo;
Nos empurra qualquer lixo goela abaixo
E ainda nos exige sorrisos brilhantes!
Sorrisos..., vi vários pelas ruas,
Todos jovens, numa triste alusão;
Quando, num golpe certeiro, veio ao chão
Um pássaro, frente à almas cruas!
Enquanto se contorcia no asfalto quente,
Mais golpes e sorrisos: euforia!
E o vento perguntou-me o que sentia
Obtendo a resposta mais deprimente!
"Bons garotos!"! Bradei: "Bons garotos!"!
Na dor do outro, a "felicidade" que há;
Compraram a ideia que o sistema lhes dá
Em seus sujos e opulentos arrotos!
Enquanto passos monstruosos se afastavam,
Presenciei a luta daquele pobre animal;
Ossos quebrados numa dor sem igual,
Olhos gritando nova chance, agonizavam!
Tentavam levantar-se, ainda crendo
Como eu! Oh! Este pássaro sou eu!
E agora, um o outro compreendeu:
Sou eu ali e ele aqui, ambos morrendo!
(João Paulo Moço)