segunda-feira, 14 de abril de 2014

Privada Auditiva


Fechem os olhos,
Ouçam as vozes,
Sintam as doses,
Falsos abrolhos,
Vestes tão belas:
Fétidas celas!

A base da pirâmide,
Morada da culpa,
Corpo magro exulta
Alienação em clâmide,
Tão bela e pomposa
Menção desonrosa!

Sorrisos forçados:
Tudo que importa!
A estrada é torta,
Mas oculta os pecados:
Então é perfeita
E tudo se ajeita!

O mundo é cor-de-rosa
Quando a barriga está cheia!
Rei da selva cai na teia:
Cérebro dominado em prosa!
Desejo indômito:
Ânsia de vômito!

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Quarta-Feira dos Sonhos Mortos


O poder da ignorância é tão assustador
Que chega à contradição de fascinar-me;
Sorrisos selvagens e brutos à rodear-me,
Dentes podres, se mostram até na dor

Do próximo que, em prantos, ajoelhado,
Saboreia o doce amargo da impotência;
De ver as luzes priscas da sapiência
Descerem pela descarga do alienado!

A atividade mental surge e parece
Uma fonte inesgotável de tristeza;
Todo ignorante é feliz na "beleza"
Da realidade que sofre e carece!

A que maldito ponto nós chegamos,
Num tempo onde a cegueira e surdez
Da mente dão voz, lugar e vez
A felicidade que tanto "desejamos"?

Felicidade insana, putrefata e ilusória
Que, em tempos de colapso, até causa inveja;
Mas, não é como a bela vitória-régia,
Dança travestida por toda sua história!

A "felicidade" que encontramos errantes
Tem um contrato de negação por baixo;
Nos empurra qualquer lixo goela abaixo
E ainda nos exige sorrisos brilhantes!

Sorrisos..., vi vários pelas ruas,
Todos jovens, numa triste alusão;
Quando, num golpe certeiro, veio ao chão
Um pássaro, frente à almas cruas!

Enquanto se contorcia no asfalto quente,
Mais golpes e sorrisos: euforia!
E o vento perguntou-me o que sentia
Obtendo a resposta mais deprimente!

"Bons garotos!"! Bradei: "Bons garotos!"!
Na dor do outro, a "felicidade" que há;
Compraram a ideia que o sistema lhes dá
Em seus sujos e opulentos arrotos!

Enquanto passos monstruosos se afastavam,
Presenciei a luta daquele pobre animal;
Ossos quebrados numa dor sem igual,
Olhos gritando nova chance, agonizavam!

Tentavam levantar-se, ainda crendo
Como eu! Oh! Este pássaro sou eu!
E agora, um o outro compreendeu:
Sou eu ali e ele aqui, ambos morrendo!

(João Paulo Moço)

terça-feira, 8 de abril de 2014

O Direito


Existe um tesouro na imensidão
Pelo qual dou a minha vida no lutar;
E, se o perco, lanço-me no reconquistar:
Meu direito ao silêncio e a solidão!

Infeliz será aquele que se prive
Do "descanso" que o capitalismo lhe "dá";
Reprimindo todo desejo que há:
Escravo em seu próprio tempo "livre"!

Dê valor, meu vital camarada,
Ao tempo de evoluir seus pensamentos
Ou, simplesmente, de pensar em nada!

A liberdade é mãe do verdadeiro entendimento
Que só faz em ti a mais bela morada
Quando não segues nenhum ensinamento!

(João Paulo Moço)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Vazio: dentro e fora de mim


Eu vejo as linhas vazias
Como eu!
Eu vejo tantas almas frias
Em apogeu!

Eu ouço falsos intelectuais
Como eu!
Eu não quero ouvi-los mais,
Ateneu!

Eu quero me libertar
De mim mesmo!
Não quero me alienar,
Quero à esmo!

Eu quero o dom da luz,
Prometeu!
Um lar que fascina e seduz,
Odisseu!

(João Paulo Moço)

Ergamos as taças: brindemos!


O álcool já não queima,
Tampouco me entorpece;
Queria a mente que esquece
Mas, a verdade dói e teima!

E agora, eu brindo à morte
Da solidariedade humana;
Que fez de nossa raça forte
E hoje, só mentes insanas!

Outro brinde aos irmãos meus
Que ainda vivem mas partiram;
Vêem ofuscar-se o que outrora sentiram,
Estão distantes dos nossos apogeus!

Um brinde à prostituta e ao frade,
Ao mundo normal e ao solitário louco:
O sistema e as convenções são grades
Que nos prendem bem longe dos outros!

E que o nosso sangue e suor
Continue servindo para vida melhor,
Não dos nossos corações roucos
Mas, à fartura da taça de uns poucos!

(João Paulo Moço)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Soneto do Abandono

 
Sonhávamos juntos sob a Lua que clareia,
Circundar o mundo e provar dos ares;
Mas, a sua embarcação cruzou os mares,
Deixando-me aos prantos na areia!
 
Mas, tal abandono tornou-se indulgência,
Foi-se contigo minha ideia de fracasso;
E aqui ficou o mais belo dos traços:
O de poder recomeçar com inteligência!
 
Lágrimas, gotículas de pureza
Que fogem de meu corpo, nuvem fria,
Ofuscam o conquistar em realeza!
 
Quero agradecer-lhe, grande euforia:
Pois só quem conheceu a tristeza
Pode um dia abraçar a alegria!
 
(João Paulo Moço)