sábado, 8 de outubro de 2016

As reviravoltas de uma sexta-feira


Hoje é sexta-feira e eu me confundo
Quando encaro o vazio e sua ausência;
Eu constato ao olhar bem lá no fundo,
População submersa em sua abrangência,

Crescendo em argumentos bem rotundos!
E o mérito em tristes reticências,
Testemunha as voltas desse mundo
A recompensar tão alegres aparências!

"Eureka!", grito eu do botequim!
Quando meteoro brinca de granizo,
Sou dinossauro que vai adiando o fim,

Pois encontro a fuga no improviso:
Tenho o céu sempre perto de mim
Porque vejo estrelas em teu sorriso!

(João Paulo Moço)

sábado, 10 de setembro de 2016

Lá vem o novo, de novo


Eu amo o povo
Porque ama a revolução
Mas, teme o "novo"!

Porque sabe: a estaca
Que lhe é tirada
Dando alívio à mão,
Quase sempre volta, cravada
Em seu coração!

Por isto, eu amo o povo
Porque ama a revolução
Mas, teme o "novo"!

(João Paulo Moço)

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Chuva


Você desejou tanto o Sol
Que esqueceu de provar
A chuva.

Dedicou-se tanto às previsões,
Quando a chave era o simples molhar
Da chuva.

Deu tanto valor às distâncias
Que não sentiu o meu tocar
Na chuva.

Passou noites em claro
Com remorsos por não pecar,
Guarda-chuva.

Não viu a intenção divinal
De nossas almas lavar
Com chuva.

E que o frustrar do não saber
Era o entendimento à mandar
Mais chuva.

Mas, não se preocupe: sempre há
Bom tempo de se reconciliar
Com a chuva.

(João Paulo Moço)

domingo, 4 de setembro de 2016

Perguntas e rimas bobas


O aquecimento global
Encontrará um jeito
De derreter as geleiras
Do nosso peito?

Será que um dia
Teremos a nobreza
De aprender a língua
Da natureza?

Quando nós entenderemos
Que a ética, em sanidade,
Não se destina apenas
À humanidade?

E que para o tal aquecimento
Encontrar sua redução,
É indispensável um crescimento
Mundial de razão?

Somos apenas grãos
Na imensidão deste mundo!
Mas, saiba, coração fecundo,
Que sem qualquer pouco, irmão,
Ele estaria bem pior:
Já não seria o mesmo,
Tornar-se-ia um infinito menor!

(João Paulo Moço)

Por que você?


Gosto de ver o meu amor
Refletido na sua pele,
Porque é lá que ele é
Mais amor.

Lá, a última semana
Sentiu-se um ano inteiro
E pressinto que próxima
Há de sentir-se décadas,
Porque tudo em você
É mais intenso.

Eu me recuso à ter você,
Para nunca te perder:
Prefiro mesmo é ter a chance
De te conquistar
Dia após dia.

Porque, no teu beijo, descobri
Que estive em guerra
Desde que nasci:
Teus lábios são a casa aconchegante,
O fogo da lareira,
O regresso à família,
A paz do meu canto,
O tempo que resgata
Todo tempo perdido!

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A democracia do meu país


A democracia do meu país é a concepção de um banquete, onde cinco patrões e um empregado decidem quem vai cozinhar, servir, passar fome, lavar à louça e em quantas prestações pagará o evento.

A democracia do meu país é uma gigante pista de atletismo, onde um corredor é posto à cem metros da linha de chegada e os demais à dois quilômetros, com uma voz à gritar: "Que vença o melhor!".

A democracia do meu país tem uma propaganda suave..., como a bota de um soldado.

A democracia do meu país faz "selfies" em passeatas que clamam por ditadura.

A democracia do meu país faz uma festa cujo convite não posso recusar.

A democracia do meu país faz política quando se equivoca e é democrática quando me culpa.

A democracia do meu país tem uma justiça que reconhece a inocência das fortunas pelo tato.

A democracia do meu país insiste muito em falar que sou livre...

Por que será?

(João Paulo Moço)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Contradição


Se a política é tão importante
Para a nação seguir avante,
Com passos belos e míticos,
À gerar frondosos ramos,
Por que então à designamos
Aos políticos?

(João Paulo Moço)

Eu preciso te dizer

 Eu preciso te dizer,
Eu preciso te encontrar,
Eu preciso te alegrar,
Eu preciso te amar.

Eu hoje sonho,
Eu sou, não morro,
Eu me recuso,
Eu não acordo.

Preciso do teu Sol,
Preciso banhar minhas pétalas,
Preciso do teu alimento,
Preciso viver.

Te dizer,
Te roubar o juízo,
Te adentrar,
Te fechar,
Te poupar do lá fora,
Te realizar aqui dentro!

(João Paulo Moço)

Solidão Dominical


O Sol fez nascer o funeral dos dias de minh'alma.
Era domingo e o defunto cheirava muito mal.
Ao longe, ouço canções e solidões que se acompanham.
Domingo é sempre assim: a TV aberta é um convite para qualquer outra coisa.
Ah! Solidão: tendência de um mundo moderno e conectado,
Porto saudoso de movimento, carente de navio,
Que senta à mesa com o silêncio e deixa a dúvida
De prisão ou liberdade.
Eu já tentei viajar
Mas, tudo o que consegui
Foi uma solidão mudando de lugar.
Mas, nunca sendo a mesma.
Jamais fui sozinho da mesma forma:
Solidão não se repete.
Eu mergulho na solidão mas, não à conheço.
Não me atrevo à buscar o fundo:
Eu tenho medo do ponto onde se faz impossível voltar.

(João Paulo Moço)

sábado, 27 de agosto de 2016

As ruínas ensinam


São tantos desistentes nas estradas,
São tantas as variedades de não,
Que, quando vi histórias fracassadas,
Ajoelhei em plena admiração.

Aprendi em uma noite ensolarada
Que a mais simples proibição
Faz da tal coisa desejada
O motivo de bater o coração.

O impossível treme, possesso,
Tal qual temem nobreza e clero
Quando, pela dúvida, me interesso,

Acertando o passo, o bolero
E provando que também o regresso
Pode me levar onde bem quero.

(João Paulo Moço)

Como cheguei


O tempo roubou minha infância,
Fez de mim adulto, deprimente;
Pensei com as minhas obrigações:
Por que não fazer diferente?
Sentindo o galope da sombra
Que, sobre nós, avança,
Decidi começar de novo
Só para morrer criança!

(João Paulo Moço)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"Ressintonia"


Acho graça nas intrigas que ouço.
O Cravo fala mal da Rosa
Sem perceber o seu próprio desnudar.

A Roda faz seu giro educado e cordial
Até que pára e o primeiro desce:
Quando volta a girar, tem alvo novo
Para a difamação.

São infelicidades que não concebem revoluções,
Porque deitam na cama com os fracassos
De tocaiar a felicidade alheia:
Um consolo medíocre.

Os boatos são como lápides:
Quem deles se cerca, convida a morte para dentro de si.
Definha tudo que te faz belo.
Fuja sem olhar para trás!

Semeio aos ventos uma proposta:
Que tal passearmos sobre as virtudes
Que toda pessoa tem?
São tantas e tão apaixonantes!
Que tal "ressintonizarmos" o olhar?

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Poema Simplesinho


Que seu labirinto ouça a dica
Deste simples coração:
Você complica,
E eu, ação!

(João Paulo Moço)

Poucas Palavras


Escorreu de mim a última gota de verdade.
As mentiras formam rios poderosos que desembocam em mares de oceanos profundos.
Mantenho-as dentro de mim e sufoco as palavras.

O pensamento e o discurso dançam em lados opostos da balança.
Uma balança em eterno desequilíbrio.
Beijo a boca do silêncio.

Descobri infindos ouvidos em cada célula de meu corpo.
E fui à semeá-los por aí, pelo mundo, sem segregações, desigualdades ou preconceitos.
E a minha voz? Bem, esta é única, sussurro digno de poucos,
Contados pelos dedos desta mão.
Ah! E como sobraram dedos incorrespondidos!

Sou como todos os outros: 
Não me deleito nos discursos que enumeram os erros
Que cometo afogado no desejo e no gozo.
Falhas dignas de penitência..., quando não as cometo!

As palavras tentam matar-me a todo instante, porque amo demais.
E à tudo que amo, nada sei dizer.

(João Paulo Moço)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Dipa Karmakar


Foi em meio à baratas e ratos,
Num ginásio totalmente improvisado,
Que ela fez dos diversos hiatos
Lugares de um sonhar inesperado!

Onde reinavam os assassinatos
Dos talentos (eram todos afogados
Pelo peso da carência nos ornatos),
Ela tomou um pouco emprestado

E transbordou o que não lhe cabe!
Fez toda dificuldade debandar,
A falta de investimento, a debilidade,

E sua luz não tardou à superar
Um governo que não vê prioridade
Nas pequenas como Dipa Karmakar!

(João Paulo Moço)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Sexta..., mulher!


O teu passar
Fez de mim criança!
É o doce que dança
Sobre meu paladar:
Água na boca,
Vontade louca!

Se olhasse para frente
E não para baixo,
Veria um presente
Onde eu me encaixo!
Esqueça o celular, minha bela
E veja em mim a melhor das telas!

Deixe o meu navio
Saber teus horizontes,
Saber do teu cio,
Devorar tuas pontes!

Tua língua insistente
A passear nos próprios lábios,
O sorriso, teus dentes
A agraciar os pátios:
Menina-mulher faceira
Personificando a sexta-feira!

(João Paulo Moço)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Férias


Enfim, já posso ser um otário
Sem a honra dos seus julgamentos;
Tranco a porta do confessionário
E revelo meus pecados aos centos!


Sou eu, do outro lado, solitário,
A ouvir-me às pedras, arrebentos;
Distante do maldito itinerário
Que mata no berço meus inventos!


Escondendo-me das reivindicações,
Da rádio que um dia foi Cidade,
Do grito por direitos em repressões!


Hoje, eu mergulho na saudade
Do menino, isento às alusões
Construídas para tolher a liberdade!


(João Paulo Moço)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Solidões Acompanhadas


Descobri beleza na fera
Quando fui mais à fundo:
Ser uma ilha não era
A pior coisa desse mundo!

Faltam mãos, pés e braços
Que consigam desatar o nó:
O estar cercado de passos
E ainda assim caminhar só!

Vislumbrei a salvação,
Das companhias, a rainha,
Quando a sua solidão
Resolveu beijar a minha!

(João Paulo Moço)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Verborragia



Um trovejar
Quase inconsciente,
Que nem sente
O alienar:


Precisa falar,
Ser a dor de dente
Da razão!
Precisa exalar
Um sim deprimente
Do meu não!


Simplesmente ser,
Mais do que eu,
Mais do que nós,
Ser o algoz
De um apogeu
À sós!


(João Paulo Moço)

Era



Eram os dossiês da alma,
Continentes de informação,
Nús, bem na palma
Da sua mão!


Era um manto pedrês!
Acertos e pecados
Num bailar siamês:
Namorados!


Era o planisfério do íntimo
Só para você se guiar
E devorar onde quisesse
Chegar!


Era uma mina de ouro
Sem emboabas:
Só suas bandeiras fincadas
No tesouro!


Era uma proporção promíscua,
Inversa e sem razão!
Era um hiato de ilusão,
As mãos dadas do internato!


Era o meu livro,
Indecente!
Era o meu jogo,
Cadente!
Lançado ao fogo,
Ao abraço..., poente!


(João Paulo Moço)

terça-feira, 19 de julho de 2016

A Flor da Resistência


Flores! Flores negras
Formando uma guirlanda fúnebre!
O grito secular ressurge
Em Baton Rouge!


Uma delas fora arrancada
E suas pétalas nem tocaram o chão,
Porque lá, no frio, sempre estão
As incontáveis!


E logo a guirlanda dispersa!
"A mão! Lá vem a mão!
Fazer da nossa voz submersa,
Deitar nosso grito ao chão!"


Mas, uma flor permanece!
Em meio à gritos, correria e caos,
O seu silêncio é a prece:
Quem expressa o seu desabafo,
Quem à luta eleva e enobrece
É a sua inércia!


A forma mais bela de protesto
É a que, diante de qualquer ameaça,
Continua sendo o que é!


E ela seguiu sendo flor,
Mantendo imóvel à denúncia:
"A maldita árvore fora cortada
Mas as raízes, continuam lá!"!


"Por cima, por baixo e até dentro de nós,
Elas crescem, se movimentam e dão frutos
De um passado tão presente e atroz,
De um rio que vem beijando o asfalto,
De sangue sedento por foz
À desaguar..., em nós!"!


A mão se apressou em levar
A flor solitária!
Afinal, o que seria dela
Se as outras flores percebessem
Que seria impossível mover
A inércia de todas juntas?


"Não às utopias libertárias!
Tremam as linhas imaginárias!
Que o Solstício venha mais cedo
E só lhes reste o frio e o medo!"


A flor é um cateto poente
Cuja extremidade abraça o Oriente,
No encontro da diferença igual,
Na Praça da Paz Celestial!


A flor é mãe!
E ser mãe é um mutirão de sentimentos
Trabalhando para que o sentimento de um
Seja a verdade
Da liberdade!


(João Paulo Moço)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Notas Viandeiras


A música é o cartão de embarque
Para as caravelas do tempo!
Ela sopra a saudade, o vento
Do passado que nunca tive
Para o futuro que hoje vive
Aqui dentro!


Todos nós somos pequenos ralos
Por onde a vida escoa lentamente!
Todos nós estamos fadados
Aos adeus, este senhor docente,
À escassez do fluido sagrado,
Ao temor da última gota!


Lágrimas tão iguais, que insistem
Na fragmentação, infindos tomos!
Belos volumes de puro esquecimento,
Queimados por outros da própria obra!


Páginas de pura insanidade,
Que ontem clamavam por liberdade,
Dão lugar às racionais, burguesas, puras,
À ocupar praças, campos e ruas
À implorar o general, a ditadura!


Ah! É no beijar da boca podre,
Fétida e rejeitada por todos
Que alcanço o meu nirvana
E integro a caravana
Da contramão!


(João Paulo Moço)

Ressurreição


Era mais um dia à suicidar-se na mesmice,
Até que o mar decidiu vestir vermelho!
Foi na hipnose das tuas ondas
Que o Sol nasceu em plena noite
E as bocas cessaram as sandices
Para que apenas os olhos falassem!


Quem entendia aquela língua erótica?
E de que adianta desnudar as palavras
Quando, tudo que importa é o que está por trás
Dos seus "mas" e "mais"?
Todos sabiam!


Eram apenas engrenagens desgastadas,
Eram peças, rotações tão cansadas,
Sonhando  um segundo em ser usadas
Apenas para si! Só para si!
Para produzir seu próprio gozo
Ao menos uma vez!


Amarraram os pés com barbantes
E abriram lojas à vender vôos!
Puseram mordaças nas bocas
E inauguraram butiques à vender sorrisos!
Quanto mais se tem, mais altos são!
Quanto mais ricos, mais belos são!
Mas, serão eles verdadeiros?


Às vezes, nos partimos no próprio sonho!
Mas, o sorriso? Este é inquebrantável!


Às vezes o cristão espanca,
Cospe, xinga e pisa em você!
E são as cinzas da bruxa que te acolhem
E te ensinam a voar
De verdade!


Vão-se as saideiras
E o adeus não chega!
A realidade
Da sobriedade
Sempre convida ao evitar!


E quem entendia aquela língua triste?
Sentimentos e histórias pululam na alma:
Todos sabiam!
Era um ponto de encontro das solidões,
De todos os tipos, cores e emoções,
Onde a inexistência dribla o mundo
E existe!


E ali, num canto, a mesa secular!
Sim! Ela está em todo lugar!
E nela, está o maldito mestre
Que, da minha mente, é o pedestre!
Sorri para mim, erguendo a taça,
Relíquia que o tempo não enlaça,
Escárnio do pavor subterrâneo
Feito de seu próprio crânio!


(João Paulo Moço)