Vi máquinas de carne pela cidade,
Incapazes de sorriso ou pranto;
Não vi abundância na realidade,
Pois o conformismo é preto e branco!
Ele tem nas migalhas "a felicidade",
Não há virtudes em seu canto
Que só se ocupa da futilidade:
O banal assassinou o espanto!
E o povo assiste o cortejo passar
Numa triste ocupação, sem graça!
Vê a existência fugir, escorrida!
Eu prefiro morrer a me entregar:
Não quero engrossar a massa
Dos que já morreram em vida!
(João Paulo Moço)
Um poema é como um filho
Para a mente que o concebe;
Orgulho que não se mede,
Dedicação em pleno brilho!
Aqui, a tristeza me invade
Por tantos filhos que perdi;
Corações que não mais senti,
Partiram deixando a saudade!
Os benditos não viram a luz,
Provaram da foice que conduz
Ao abismo onde tudo se esquece!
Aos nobres, ergo minha taça,
Tendo ao redor a pior raça:
O pouco que este tolo merece!
(João Paulo Moço)
Deixem-me lamber minhas feridas
E saborear as dores sofridas!
Vão embora! Deixem-me sozinho
Com o meu porre de vinho!
Minha mente não encontra porto
E o coração parece estar morto;
Sonhos fogem à passos largos
E a vida tem um gosto amargo!
Eu, liberto das amarras,
Abandono todas as minhas caras
E adentro, sem rumo, o mar!
Ignoro as ondas mais altas,
Terra firme não me faz falta:
Nada vai me fazer ancorar!
(João Paulo Moço)